Após uma caminhonete ficar com o interior completamente derretido depois de ser atingida por um raio na BR-020, em Goiás, físicos explicam sobre o princípio da Gaiola de Faraday, que “protegeu” o motorista de ter recebido um choque, e porque os veículos são considerados locais seguros durante tempestades.
O raio atingiu o veículo na tarde de sexta-feira (20), enquanto o condutor passava pela cidade de Posse, no nordeste do estado. O mecânico que ajudou o motorista contou que o raio teria atingido primeiro a antena do veículo, depois passado para o interior, provocando um curto-circuito.
O profissional ainda contou que o motorista da caminhonete, que não quis se identificar, disse que saiu rapidamente do veículo, fechando as portas para que as chamas apagassem. Ele não sofreu nenhum ferimento.
Gaiola de Faraday
O nome do princípio se dá a partir de um experimento de blindagem eletrostática feita pelo físico e químico britânico Michael Faraday, em 1836.
Os professores de física George Fontenelle e Welder Jorge, de Goiânia, explicam que não são os pneus do carro que blindam a descarga elétrica, mas, sim, o princípio da Gaiola de Faraday, formado pela superfície metálica completamente fechada.
“A questão X é o campo elétrico. As cargas que vêm do raio se posicionam de uma forma que toda a carga elétrica que atinge um recipiente metálico fechado será mandada para a parte externa, de tal forma que não vai eletrocutar uma pessoa”, explica Fontenelle.
“As cargas se concentram só na superfície, elas não entram no sistema [carro] mesmo que tenha matéria, como os bancos, etc. A pessoa que está dentro do carro fica isolada”, conta Welder.
Por que o interior da caminhonete derreteu?
Os físicos explicam que o interior da caminhonete ficou derretido por causa da alta temperatura dos raios, o que provocou o curto-circuito em toda a parte elétrica do veículo.
“No caso da caminhonete, as imagens mostram que o raio superaqueceu e fez derreter o interior. Isso porque a temperatura de um raio desse é altíssima, supera 2 mil graus Celsius”, pontua Fontenelle.
“Caso o raio tenha atingido direto antena, foi pelo 'Princípio das Pontas', que concentra e atrai as cargas elétricas das nuvens. Como a descarga de um raio é alta demais, isso provocou o curto-circuito na superfície. Os fusíveis, a estrutura não aguenta. Os fios superaquecem e provoca o incêndio”, ressalta o professor Welder.
Lugar seguro
Ainda segundo os físicos, a estrutura de um carro funciona de uma forma parecida com um para-raios, estando os passageiros seguros, caso todas as portas estejam completamente fechadas.
“Não existe nenhuma possibilidade de cair uma descarga elétrica em um carro e uma pessoa dentro do carro tomar um choque. Ou seja, em uma tempestade, o lugar seguro é um carro. Em Goiânia já aconteceu de um fio de alta tensão cair sobre um carro e ninguém se ferir”, pontua o professor Welder.
“A priori, até em pequenas aberturas do carro, como a janela aberta, por exemplo, não tem o risco de o raio entrar, apenas se essa a abertura aumentar e afetar o campo elétrico”, explica.