O município de São Raimundo Nonato, no Piauí, foi sede de mais um importante momento para a pecuária do semiárido. Cerca de 100 produtores rurais participaram do Dia de Campo promovido pelo Sistema Faepi Senar Piauí, realizado na Unidade de Referência Tecnológica (URT) de Bovino de Corte, na Fazenda Ceará – Campo Formoso/São Vitor, propriedade do produtor Pedro França.
O evento teve como objetivo apresentar os resultados obtidos com o experimento realizado na fazenda, que utilizou 12 animais, inicialmente com peso médio de 200 quilos, e que após 10 meses de manejo e alimentação adequada atingiram a impressionante marca média de 500 quilos. O experimento buscou não apenas testar a resistência das forrageiras à estiagem e ao pastejo, mas também avaliar o ganho de peso dos animais, agregando mais informações práticas ao trabalho dos pesquisadores e produtores.
O projeto apresentou aos participantes um verdadeiro “cardápio forrageiro”, composto pelas variedades Massai, Búffel Aridus e as braquiárias BRS Piatã e Paiaguás, pensadas para oferecer aos produtores opções de cultivares mais adaptadas às condições do semiárido. A proposta é que os agricultores possam observar os resultados, as condições de trabalho e clima, e fazer uma conexão direta com a realidade de suas propriedades, adotando as melhores alternativas para sua produção.
Hudson Marreiros, supervisor do projeto no Piauí, destacou que a resistência dos pastos implantados sob regime de pastejo e o ganho de peso dos animais foram os principais avanços identificados. “O Dia de Campo vem para apresentarmos os resultados diretamente para os produtores, que têm um interesse direto no projeto. Queremos apresentar uma modelagem de produção e um cardápio forrageiro, para que, a partir disso, possam tomar decisões mais assertivas e produtivas em suas propriedades”, explicou.
Durante o evento, três temas centrais foram trabalhados com os produtores. Ricardo Holanda, médico veterinário e supervisor da ATeG SENAR/PI, ministrou a palestra sobre manejo sanitário e seleção de lotes para produção de bovinos de corte no semiárido. Em sua apresentação, ele explicou a importância de selecionar animais eficientes, que apresentam melhor conversão alimentar, destacando que “a grande matéria-prima para produção alimentar é a forragem. Mas para converter forragem em carne de maneira eficiente, é necessário trabalhar com animais que tenham boa resposta, aumentando assim a produção por hectare.”
Outro momento importante foi a exposição dos resultados de terminação de bovinos de corte em regime de sequeiro, conduzida pela supervisora do ICNA, Alenilda Carvalho, ao lado do técnico Gean Bastos. Alenilda ressaltou a importância do experimento em campo real. “Um dos principais resultados foi comprovar aquilo que havíamos prospectado na fase teórica do projeto. Simulamos uma condição de trabalho, combinando gramíneas para serem pastejadas no período seco e chuvoso, e conseguimos um ganho médio dos animais superior ao que havíamos projetado. Durante o período da experimentação, os animais apresentaram desempenho melhor do que o esperado em regime de sequeiro, o que mostra que o produtor rural pode replicar esse sistema e otimizar sua rentabilidade”.
Francisco Monteiro, da Embrapa Meio-Norte, apresentou técnicas de conservação de forragens como reserva estratégica para enfrentar os períodos de escassez de pastagem no semiárido. Segundo ele, “a principal estratégia para o semiárido é a conservação de forragem através da silagem e da fenação. As técnicas que apresentamos são acessíveis, relativamente simples e econômicas, sendo ideais especialmente para pequenos produtores.”
O produtor Márcio Moura, um dos participantes do Dia de Campo, destacou a importância do conhecimento compartilhado. Para ele, um dos grandes aprendizados do evento foi sobre a produção de silagem. “Ouvi os pesquisadores e as experiências dos colegas produtores. Fica claro que devemos investir cada vez mais em silagem, além do manejo correto da pastagem. Essas informações foram muito importantes para melhorar nossa produção”, avaliou.
Pedro França, proprietário da Fazenda Ceará, também comemorou os resultados alcançados e destacou a importância da ciência no campo. “Estou muito contente com os resultados. Mais uma vez, ficou comprovado que a ciência é uma grande aliada do produtor. Conseguimos transformar bezerros em animais de grande porte em poucos meses. Acredito que, se fizermos tudo corretamente, os resultados aparecem. A prova está aqui”, afirmou entusiasmado.
O Projeto Forrageiras para o Semiárido é uma iniciativa conjunta do Instituto CNA, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Piauí (FAEPI) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo Hudson Marreiros, as próximas etapas do projeto incluem a realização de novas palestras, participação em eventos e exposições agropecuárias, além da promoção de outros dias de campo. “Nossa ideia é divulgar ainda mais os resultados e transferir essa tecnologia para um número maior de produtores rurais, levando alternativas reais para o fortalecimento da pecuária no semiárido”, concluiu.
O Dia de Campo consolidou-se como um marco para os produtores da região, que saíram do evento com novas informações, tecnologias aplicáveis e a certeza de que é possível produzir mais e melhor, mesmo em condições desafiadoras.