Apesar das promessas de recomposição orçamentária do governo Lula (PT), as universidades federais ainda operam com menos recursos discricionários — verba usada para despesas básicas como contas, limpeza, manutenção e materiais — do que nos governos Temer (MDB) e Bolsonaro (PL), antes da pandemia.
Segundo dados do centro de estudos SoU_Ciência, embora tenha havido recuperação parcial em 2023 e 2024, os valores destinados exclusivamente ao funcionamento das instituições seguem abaixo do praticado entre 2016 e 2019, mesmo com correção pela inflação.
Em 2016, o valor liquidado foi de R$ 6,7 bilhões. Em 2019, caiu para R$ 5,5 bilhões. Durante a pandemia, houve forte retração, chegando a R$ 3,5 bilhões em 2021. Em 2023, subiu para R$ 5,2 bilhões, mas caiu novamente em 2024, ficando em R$ 5 bilhões. Para o pesquisador Weber Tavares, os avanços recentes são insuficientes para o pleno funcionamento das universidades.
O Ministério da Educação (MEC) afirma estar promovendo a recomposição do orçamento e anunciou uma complementação de R$ 400 milhões para junho. No entanto, um decreto presidencial de abril determinou o fracionamento dos repasses, limitando os pagamentos mensais e aumentando a pressão sobre as reitorias. Muitas já adotam contingenciamentos e relatam dificuldades até para pagar contas básicas.
A situação é agravada pela queda nos investimentos em infraestrutura. Em 2024, os gastos com obras, veículos e equipamentos somaram apenas R$ 162 milhões — o segundo pior resultado desde 2000, refletindo em paralisações e atrasos em diversas instituições, como a UFRJ, que enfrenta prédios deteriorados e falta de verba para reformas.
Na assistência estudantil, embora os valores tenham crescido desde 2023, ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia. Em 2024, mesmo com aumento nominal, o valor real está 5% abaixo do registrado em 2015, apesar de haver 300 mil alunos a mais nas universidades.
Especialistas apontam que o problema não é apenas orçamentário, mas também de planejamento. “O MEC precisa saber qual investimento mínimo é necessário e lutar por ele”, afirma Mariana Almeida, do Insper. Para ela, o governo precisa definir prioridades claras: expandir vagas ou melhorar a qualidade?
O MEC, por sua vez, afirma que seu orçamento total cresceu 38% desde 2022 e que segue trabalhando para recompor os valores das universidades federais para 2025. Ainda assim, as instituições alertam: sem estabilidade e investimento adequado, o funcionamento pleno das universidades públicas segue comprometido.