Depois de 27 (vinte e sete) anos atuando como professora do Estado Piauí, destes com 19 anos no Liceu Piauiense.
Nesse tempo já vi de tudo. Já vi assédio moral, já vi cavaletes de políticos sendo confeccionados dentro de escola para favorecer candidato a deputado, momento em que denuncie a Policia Federal e foi tomado as providências, já vi tentativa de prejudicar de todas as formas os profissionais da educação.
Já vi coisas horrendas e nunca me calei, pago a conta em forma de fatura parcelada, no entanto, não me arrependo de nem uma denúncia, sabe aquele jargão que o que não está certo é da conta de todo mundo, assim sempre denunciei a quem de direito, porém, observo que esse ano de 2020 o movimento grevista pelo país está de forma “sui generis”, acompanhamos a infeliz tentativa de um senador no estado vizinho que investiu com uma retroescavadeira para cima das famílias de policias em greve.
Policiais estes que estão desesperados, pois não aguentam mais passar fome e necessidade com os proventos que recebem, falta tudo, principalmente condições dignas de trabalho, no entanto, parece que agora conseguiram uma força muito grande motivada pela necessidade de não mais aquentar tanta injustiça, desta forma a distribuição de renda vai ter que ser revista no Brasil, ou teremos a repetição do que está ocorrendo no Ceará pelo Brasil afora.
Não é simplesmente dizer que a greve é ilegal, é dar condições de vida digna aos trabalhadores, para findar a questão nacional vimos o Estado de Minas Gerais em que o legislativo aprovou um aumento de 40% (quarenta por cento) para os policiais esta semana.
Retornando ao Estado do Piauí e a greve dos professores, é preciso aumentar a mobilização, pois não há dignidade no exercício da profissão, professores que todo ano são humilhados na hora de serem lotados, pois as escolas que estão com pouco alunos são fechadas pela Secretaria da Educação, assim todo ano os professores ficam preocupados onde irão exercer seu mister.
Sem dúvida a mobilização de profissionais da educação está estimulada em virtude de tantos desmandos e escândalos financeiros na Educação do Estado do Piauí.
Ouvi muitas vezes que a reivindicação salarial é uma demanda egoísta do professor. Sobre isso, algumas considerações: ainda que a greve fosse só por salário, me desculpem, mas como qualquer profissional de qualquer área, é meu direito reclamar. Esse juízo de valor resulta de uma visão de professor não profissional, a “tia da alfabetização” que dava aula por amor, não por dinheiro.
A segunda coisa, que vale sempre lembrar, sobre a avaliação que reivindicação salarial é egoísta, é que professor mal remunerado é professor que tem que trabalhar turnos extras. Assim, entendo, que o professor deveria ser bem remunerado para não ter que ser professor de carreira, de uma escola a outra, muitas vezes complementando a renda em escolas particulares.
Então, para os moralistas que diz que professor não pode brigar por salário, fica a dica que não somos missionários e que professor bem remunerado é professor com menos turmas, e por isso, trabalho de mais qualidade para cada um dos discentes.
Assim a greve, ganha contornos muito especiais. Diz respeito à defesa de uma educação pública de qualidade, luta contra a morte da escola pública. E nessa batalha de vida ou morte nos encontramos até hoje. Acompanhei ao longo destes anos muitos colegas que quando conseguem se aposentar praticamente não conseguem prover as medicações que necessitam e alimentação.
Essa luta, cansa e fragiliza, mas é no outro que nos fortalecemos.
Bravos e bravas guerreiras, amedrontar os profissionais da educação, cortando nosso ponto não irá nos deter. O estado de exceção que se tornou a regra no Piauí, notadamente pelos escândalos de corrupção na educação, deve ser combatida por cada cidadão piauiense e apurada as responsabilidades pelas autoridades. Muito embora alguns professores e professoras possam ter medo, mas é bom lembrar que também temos sangue. E com certeza na assembleia dia 02 de março de 2020, seremos mais e seremos vitoriosos, especialmente por lutar por cidadania e por dignidade.
Como prelecionou Martin Luther King Jr. A greve, no fundo é a linguagem dos que não são ouvidos.