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Jornalista, radialista e redator publicitário apaixonado pelas letras. Comunicador há 35 anos.
Geral Verde Oliva
07/04/2020 13h58 Atualizada há 5 anos
Por: Redação

A CANETA É VERDE

Não é azul. Não é amarela. Nem preta. Muito menos vermelha. A caneta é verde. Verde oliva. Da cor da farda dos generais. O governo está povoado pelos comandantes das forças armadas. Seja da ativa ou da reserva, o alto escalão tem mais de uma dezena de oficiais ocupando as principais pastas do entorno da Presidência da República.

Há quase dois meses, no dia 18 de fevereiro, o general Walter Souza Braga Netto assumiu a Casa Civil da PR. Aquilo me chamou a atenção. Um general da ativa no comando da Casa Civil? Não é paradoxal? Mas foi resolvido rapidamente. No dia 29 de fevereiro, Braga Netto foi encaminhado à reserva do Exército Brasileiro.

General Braga Netto é o Presidente Operacional?
General Braga Netto é o Presidente Operacional?

O general de quatro estrelas tem uma trajetória brilhante, irretocável, nacional e internacionalmente. Está sempre próximo ao poder Executivo desde o final do século passado, quando ainda Tenente-Coronel, foi Assessor da Subsecretaria de Programas e Projetos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Há mais de 20 anos, vem assumindo postos de grande importância. Seu último posto na ativa foi o de chefe do Estado-Maior do Exército.

General Braga Netto, 63 anos, é mineiro de Belo Horizonte" />

No último sábado, 4, o jornal italiano La Repubblica trouxe extensa matéria da jornalista Daniele Matrogiacomo com o título: “Brasile: colpo stato Jair Bolsonaro destituito militari”. Curiosamente, a matéria não está mais no ar em sua versão digital, mas se buscá-la, é fácil encontrar o link que ao ser aberto aponta erro. Daniele repercutira o que aventara um dia antes, na sexta-feira, 3, o jornalista investigativo argentino Horacio Verbitsky. O periodista falava que o general assumira a “Presidência Operacional.”

No dia 30 de março, as coletivas de imprensa diárias sobre o enfrentamento a pandemia foram mudadas do auditório do Ministério da Saúde para o Palácio do Planalto. A dinâmica foi alterada. Além das participações de titulares de outras pastas, o próprio Braga Netto abriu e coordenou as falas. Quando inquirido sobre as especulações de sua demissão, antes que o ministro Luiz Henrique Mandetta respondesse, o general antecipou-se e categoricamente afastou a possibilidade, garantindo que o ministro da Saúde ficaria.

"General Luiz Eduardo Ramos, 63 anos, é carioca" />

Em meu facebook, publiquei o texto intitulado “ACABOU”, em 21 de março, prevendo o que ora ocorre entre os possíveis cenários levantados em minhas linhas. Eis o trecho transcrito: “O presidente pode até escapar de um impeachment e ficar na cadeira, mas ele não governa mais. Tudo encaminha-se para um parlamentarismo tácito, onde o executivo vai ter que se curvar à força do Legislativo em cooperação com a do Judiciário. O oposto do que pediam seus seguidores no fatídico dia 15 de março.”

O que aconteceu ontem, 6, foi o episódio que faltava para completar o quebra-cabeças que vejo com clareza. O Brasil vive um novo modelo governamental. O presidencialismo de coalizão cedeu a vez a uma nova modalidade. Estamos na era do Parlamentarismo Militar. Braga Netto, obviamente, é o Primeiro-Ministro. Bolsonaro continua presidente, mas é apenas figurativo. Seus sequentes e contínuos despautérios renderam-lhe um posto coadjuvante.

Sempre que houver situações cabais como a de ontem, quando o ministro Mandetta por pouco não foi demitido em plena crise pandêmica, haverá intervenção do alto comando militar da República. Além do Ministro Chefe da Casa Civil, a alta cúpula que toma as decisões e dá as cartas está centrada nos ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo; Augusto Heleno Ribeiro Pereira, do Gabinete de Segurança Institucional. O triunvirato de generais do Exército lembra-me a história da Roma antiga. Em duas oportunidades, após traumáticos fins de governo, três generais assumiram dividindo o poder.

General Augusto Heleno, 72 anos, é paranaense de Curitiba

Especula-se que este formato foi desenhado pela habilidade política e estratégica do general Augusto Heleno. Bolsonaro foi envolvido sutilmente até que concordou com a substituição de Onyx Lorenzoni, que assumiu o Ministério da Cidadania, destronando Osmar Terra. Ao abrir passagem a Braga Netto, o plano de Heleno estava completado. O experiente general, que de intervenção em momento de crise entende muito bem, considerando sua gestão no Rio de Janeiro, entre fevereiro de 2018 a janeiro de 2019, é o novo administrador da PR.

A sagacidade de Heleno traz outras consequências. A ala ideológica do governo perde terreno, esvaziando tacitamente os poderes daqueles que se pautam pelas questões de costumes e de religiosidade. Enfraquecidos, vão dar vazão há uma gerenciamento mais técnico. Carlos e Eduardo, 02 e 03, mais alinhados com o “filósofo” Olavo de Carvalho, vão gradualmente perder a influência nas decisões do Palácio do Planalto. O Gabinete do Ódio foi derrotado e ainda não se deu conta.

Ainda veremos destoar o que fala Bolsonaro e o que o governo age objetivamente. Tudo é novo. De ontem, a primeira e evidente atitude de poder do triunvirato ao desautorizar a demissão de Mandetta, ainda poderemos assistir a esperneios de um ou outro que não caiu a ficha da mudança, mas será enquadrado pelos homens da farda verde oliva.

Vivemos dias históricos. Fatos que estão em andamento vão modelando uma alteração de realidade. Sem uma ruptura evidente, o poder Executivo está em transformação e a imprensa brasileira, em sua maioria, nem percebeu. Poucos sites, todos ligados a esquerda, deram sinais tímidos do que apontara na transmutação que ganha forma.

Luiz Henrique Mandetta, 55 anos, é de Campo Grande (MT)

Se Bolsonaro pretendia dar um golpe na democracia, com sucessivos ataques aos poderes Legislativo e Judiciário, o contragolpe veio da caserna que ele um dia ousou planejar atacar com bombas, explodindo quartéis. A resposta chegou décadas depois com o seu governo sendo implodido sem dar uma botinada, com as armas nos coldres e os regimentos em paz. Não queriam intervenção militar? Pois aí está. Mas num modelo novo e totalmente diferente do que sonharam os nostálgicos apoiadores do presidente.

E o Vice-Presidente Mourão? Ele não faz parte do Clube do Bolinha. Muito questionado entre seus pares, estava isolado e faz um processo de aproximação com o triunvirato. Bom de diálogo, é possível que avance na relação com o alto comando da PR. Ontem, foi a única voz oficial do governo que manteve contato com a imprensa anunciando que Mandetta ficaria. Sintomático, pois o Palácio do Planalto silenciou. Só depois que ele forneceu a informação à repórter Andréia Sadi, da Globo, o ministro da Saúde manifestou-se em coletiva à imprensa.

Diferentemente do que muitos podem pensar que estamos sob um novo golpe militar, na verdade estamos sendo resguardados pelos generais para que a democracia brasileira prossiga avançando. Percebam como o Legislativo e o Judiciário vêm se posicionando com clareza e serenidade sobre os arroubos desconexos do presidente, alertando que não vão permitir medidas descabidas e em confronto com o que defendem a OMS e as nações no combate ao novo coronavírus.

Jair Messias Bolsonaro, 65 anos, é de Glicério (SP)

A saída que se desenha, ao que tudo indica, foi conciliada entre os representantes dos poderes para evitar um impeachment, que não está de todo afastado. Tudo vai depender do resultado da intervenção branca em andamento. O presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ) tem as cartas nas mangas. São sete pedidos de impedimento do presidente protocolados. Um deles bastante consistente. Qualquer coisa, basta sacá-lo da manga e botar para tramitar. O Judiciário, também assacado por muitas afrontas, certamente entrará em concordância, chancelando o processo.

Se os militares chegarem ao poder como protagonistas, desta vez será pelas vias legais, concorrendo como civis em uma eleição. No universo militar, a doutrina é clara: hierarquia e disciplina. O capitão se viu obrigado a bater continência aos generais e vai fazer exatamente o que seus superiores ordenarem. Bolsonaro amarelou. Sua caneta tem tinta, mas não está em sua posse e só a verá quando o acordo do que vai assinar estiver consolidado no papel, consensuado pelos homens das fardas de botões dourados. A caneta é verde. E o verde faz do azul com o amarelo.

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