Senso de justiça, reconhecimento e milagres fizeram de um motorista paraibano um santo criado pela fé popular de Teresina. Trata-se do motorista Gregório Pereira dos Santos.
Ele morreu às margens do rio Poti e, devido a como tudo aconteceu, tendo sido na época a sua morte um grande abalo na sociedade, foi construído um monumento no lugar onde morreu, o Monumento do motorista Gregório.
Esse ponto fica na avenida Marechal Castelo Branco, em Teresina, e se incorporou no turismo histórico e religioso da capital, sendo cultuado por muitas pessoas.
Mas por quê?
Aqui no Conheça o Piauí você confere os detalhes por trás desse monumento religioso, turístico e dessa santificação.
#A chegada de Gregório ao Piauí
Gregório era natural da Paraíba e, ainda quando residia por lá, conheceu o comerciante Jaime Teodomiro, que era de Barras, no Piauí, e tinha ido para a Paraíba comprar um automóvel, o Ford T. Barras é onde fica um trecho turístico do rio Longá.
Só que Teodomiro não sabia dirigir e na época, em Barras, ninguém sabia também, tendo sido o seu veículo o primeiro de sua cidade. Foi então que ele convidou e contratou Gregório para ser motorista dele em Barras. Assim, o jovem paraibano aceitou e, aos 19 anos, passou a residir em Barras, a 120 km de Teresina.
Já tendo passado algum tempo, Teodomiro passou o carro para a paróquia da cidade piauiense. Dessa forma, Gregório passou a ser oficialmente motorista da paróquia. Cumprindo sua função, em 14 de outubro de 1927, dia em que Barras receberia a visita do bispo da época, o bispo Dom Severino Vieira de Melo, Gregório dirigia o Ford T levando o juiz de Direito José de Arimathéa Tito, o coronel Otávio de Castro Melo e o padre Lindolfo Uchôa para receber o bispo na entrada de Barras.
Quando então passava por determinada rua, uma criança saiu correndo de dentro de uma casa e passou de uma vez em frente ao veículo dirigido por Gregório. O motorista ainda tentou frear para evitar o atropelamento, mas não adiantou. A criança acabou morrendo.
Todos que estavam no automóvel viram que Gregório não teve culpa. A população também defendeu o motorista. Mas o seu destino parecia estar ali traçado. O menino era filho do delegado da cidade, Florentino Cardoso, homem que viria a ser o assassino de Gregório.
#Como se deu a morte de Gregório
O delegado Florentino, ao saber da morte do filho, prendeu Gregório e deixou o motorista dias sem água e sem comida. O juiz Arimathéa Tito, que estava dentro do veículo na hora do acidente e viu que o motorista não teve culpa, expediu um habeas corpus para que Gregório fosse liberado.
Florentino disse que cumpriria a ordem, mas assim não fez. O delegado levou Gregório acorrentado no pescoço para Teresina, todo tempo sem comer e beber. Assim que chegaram na capital, Florentino acorrentou Gregório em uma árvore às margens do rio.
Tão perto de água, mas sem conseguir beber, Gregório implorava para que matassem sua sede. Foi então que o delegado matou Gregório a tiros. Muitos populares viram esse crime, o fato se espalhou, tendo sido inclusive noticiado na imprensa, causando a indignação frente a uma injustiça com Gregório.
#De motorista a santo milagreiro
A história da morte de Gregório, a motivação e como se deu, logo se espalhou pela cidade e imaginário popular, que fizeram com que o jovem motorista não fosse esquecido.
Muitas pessoas passaram a ir para o local onde ele morreu para fazer peregrinação, levar água, velas, rezar, pedir ajuda, agradecer por graças alcançadas. Até que em 1983, foi construído o monumento no lugar onde morreu. Ele tem o formato de uma gota d’água.
Até hoje esse monumento recebe muitas pessoas cheias de fé e devotas a Gregório. Inclusive muitas são as estórias de milagres alcançados por quem foi pedir ajuda, rezar para o motorista. Assim, ao longo do tempo, ele foi transformado em santo da fé popular.
A sua canonização tem sido uma luta de várias pessoas que falam ter recebido de Gregório graças alcançadas. Inclusive, um fato interessante é que Gregório é o único santo que as pessoas rezam com água e não com vela.
Além do monumento na avenida Marechal Castelo Branco, em Teresina também há outros pontos que são tidos pela população como de homenagem a Gregório: a árvore do martírio, a que ele foi acorrentado; o túmulo do motorista, que fica no cemitério São José; e o cruzeiro na avenida Frei Serafim.
E você sabia sobre o que havia por trás desse monumento em Teresina? Mesmo que você não acredite nos milagres ou não siga alguma religião, vale muito a pena conferir esse ponto que relembra a história de Gregório.