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Jornalista, radialista e redator publicitário apaixonado pelas letras. Comunicador há 35 anos.
Cultura Literatura
11/05/2020 19h20 Atualizada há 4 anos
Por: Redação

CRÔNICA DA QUARENTENA II

Uma caminhada ao sol para absorver vitamina D. Colaborando para aumentar a minha imunidade. Em meio a umidade que escorre em forma de suor pelas têmporas, vejo o mundo e a humanidade mudando a sua pisadura.

Os óculos que embaçam com a expiração jogadas às lentes, refletindo os raios contra o sol. Às vezes não dá para ver onde pisar. Reaprendo a andar sem a certeza da pisada. É preciso escolher o terreno menos acidentado para evitar os sinistros.

O autor por trás da máscara
O autor por trás da máscara

O microscópico novo coronavírus rendeu o ser humano, que sempre se achou grande, e o colocou aos seus pés. Soberano, usa as pontas de sua coroa para invadir as células, assumir o terreno e decretar o seu reinado tirano.

Mas nem todos se deram conta que estamos vulneráveis. Ou não querem acreditar. Uma margem nega do que o vírus é capaz. Sempre haverá quem negue mesmo que se esfregue na cara.

Basta um ir de encontro aos fatos para espalhar a virose mortal. A ignorância é o pior dos males. Em tempos de pandemia, pode levar a sete palmos para ser coberto de terra para sempre. Se colocasse só a si em risco, menos mal.

A lição pandêmica, talvez a maior de todas, é que precisamos nos unir. Só pelo exercício do espírito coletivo seremos capazes de superar o maior desafio contemporâneo. Unidos, mas distanciados. A nova realidade é cheia de antagonismos.

Em minha trilha urbana, atravessando ruas quase abandonadas, calçadas quase vazias do Centro histórico da capital piauiense, também vi comércios que não estão na lista de serviços essenciais semiabertos.

É compreensível as dificuldades financeiras. Ninguém vai escapar delas. Gigantes, grandes, pequenos e minúsculos. CNPJs e CPFs estão juntos nisto. A diferença é que é possível ressuscitar uma empresa, mas a vida é uma só. Depois de entubado, a sorte está lançada e nem todos voltam. Muitos ficam pelo caminho.

As máscaras tornaram-se acessórios definitivos. A maioria usa-as corretamente. Cobrindo nariz e boca. Mas há quem a coloque no queixo, queixando-se que se sente sufocado. Gente que não tem ideia do que seja a síndrome respiratória aguda grave. Sufoco é isso, amigo.

Outros as põem na testa. Há quem deixe pendurada na orelha, como se fosse um brinco. Passou um andante sem ela em lugar nenhum. Questionei e a tirou do bolso. Ora mais. Para quê usá-la no bolso? É cada uma.

Depois de mais de uma hora, cansei. Sentado no banquinho de uma praça, olhava despreocupado os detalhes arquitetônicos de uma igreja. Fechada, mostra que a fé não precisa de liturgia. Nunca antes as pessoas apegaram-se tanto ao divino sem precisar ir a uma cerimônia religiosa.

Uma jovem mulher, esquálida, atravessa o logradouro com a cabeça baixa. O olhar é um radar. Varrendo o chão com os olhos, quem sabe pretenda achar um níquel, uma bituca de cigarro, um pouco de esperança.

Os carros passam. Com vidros fechados, ar-condicionado ligado, apenas uma pessoa. Com vidros abaixados, vão dois ou mais. O ar é de graça, mas não há graça em respirar o mesmo ar num local fechado.

A tarde avança. Uma rápida brisa levanta meu cabelo crescido que não vê tesoura há meses. E, pelo visto, não verá tão cedo. E os salões de beleza? Agora todo mundo vai ter que cuidar da vaidade sozinho. Com máscara nem precisa usar batom. Menos maquiagem, mais economia.

Como serão os flertes? O sorriso que conquista está cerrado. O mundo será cada vez mais virtual. Para consumar o ato com responsabilidade, só se fizer o teste, cobraria uma moça interessada. Ocorreu-me isso. Os namoricos podem abrir novos protocolos. Vamos aprender a ser mais seletivos. E as traições? Tendem a diminuir?

Sinto muita falta de ir ao cinema e livrarias. Estes tão cedo vão abrir. São aglomeração pura. Shows de música, espetáculos de teatro, dança e circo, só nas lives. Todo mundo tem algo a mostrar. Algumas são puro desperdício.

O sol baixou por trás dos prédios. Vai anoitecer. É hora de pegar o caminho de casa. A lanchonete que servia caldo de cana está lacrada. Como eu sinto falta. Nada é mais refrescante que uma garapa tirada ali na hora. Até das abelhinhas circulando deu saudade.

A praça mais concorrida da cidade não tem um pé de cristão. Andei por um trecho de três quarteirões sem uma viva alma. Mais adiante, uma farmácia de manipulação. A atendente e um segurança na porta.

Cabelos vermelhos encaracolados. Corpo esbelto de falsa magra. Gostei do tipo. Ela sorriu. Notei pelos olhos. Retribuí. Segui no mesmo passo. Muita aventura, pensei. Se tivesse uns vinte anos a menos, talvez arriscasse um papo.

Perto de casa, um ambulante vendedor de frutas está parado na esquina. Pela quantidade de mercadoria, vendeu quase nada. Se tivesse laranjas, talvez levasse umas. Vitamina C. Cuidem do sistema imunológico. Enquanto não tiver vacina, quarentena, sucos cítricos e cautela não fazem mal a ninguém.

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