Um incêndio de grandes proporções no Piauí está a poucos quilômetros de atingir o Parque Nacional da Serra da Capivara, área que é patrimônio cultural da humanidade. Há dois meses não chove na região. Uma força-tarefa envolvendo 24 brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) trabalha para que o fogo não chegue ao parque, que guarda sítios arqueológicos com os primeiros vestígios do homem nas Américas.
O fogo causou medo e apreensão nos moradores da região, pois queimou exatamente um trecho de mata de caatinga conservada entre os assentamentos rurais da Serra dos Gringos e do Novo Zabelê, onde vivem centenas de famílias, com muitas crianças e idosos. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), dos 6.271 focos de incêndio na caatinga, neste ano, 44,5% aconteceram no Piauí (2.790).
Em meio ao fogo no Piauí, o ICMBio deslocou 14 brigadistas da região para combater as chamas na Amazônia. A estratégia deixou especialistas preocupados. Para a presidente da Rede Ambiental do Piauí (Reapi), Tânia Martins, a ação de deslocar profissionais locais capacitados para combater incêndios pode gerar ainda mais deficit na capacidade do estado de reagir às queimadas. “Enquanto isso, o Piauí está se desmanchando em fogo. É muita incoerência, não temos bombeiros em 221 municípios do estado. Nas imediações de Picos é fogo, fogo, fogo”, destaca a ambientalista.
Enquanto isso, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles aproveitou para ir a clube de tiro durante o expediente, na última segunda-feira. Na agenda oficial constava que o ministro estava em “atividades remotas”, quando o agente público está em serviço, mas de forma não presencial. “Eu fui, em minha hora de almoço, e retornei ao MMA em seguida e fiquei lá trabalhando até as 20h30”, justificou.
No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2021, o governo não prevê recursos para ações do programa de Prevenção e Controle do Desmatamento e dos Incêndios nos Biomas. Em 2020, Ibama e ICMBio tiveram pouco mais de R$ 128,4 milhões autorizados pelo Palácio do Planalto e outros R$ 5,7 milhões aprovados pelo parlamento para essa finalidade.