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16/12/2020 08h34
Por: Bruna Dias

Como saber se a criança precisa de fono?

Uma criança aprendendo a falar é uma delícia de ouvir e acompanhar. “Dá, mã, pá, qué”... Esses e outros sons são só o começo de uma verbalização que vai progredir e se tornar uma via de comunicação clara e madura mais à frente. Mas nem tudo nesse caminho são flores. Muitas vezes, os pais ficam preocupados quando, à medida que o filho cresce, palavras que, a princípio, parecem fofas, perdem a graça quando ele não dá sinal que vai aprender, finalmente, a pronunciá-las corretamente. Uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e publicada na revista científica Journal of Human Growth and Development constatou que 49% dos pais entrevistados acendem essa luz de alerta quando o pequeno tem entre 4 e 5 anos e ainda não fala direito. Uma apreensão justificável, de acordo com o estudo, já que os especialistas também recomendam atenção e, se necessário, investigação, caso a criança não progrida no desenvolvimento da fala nessa faixa etária. A seguir, veja quando realmente vale se preocupar com esse assunto.

Há uma idade certa para a criança começar a falar? 

Getty images
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Segundo os especialistas, por volta dos 12 meses ela já está apta a pronunciar algumas palavras. Mas, até lá, existe uma evolução no processo de linguagem, como explica Lilian Kuhn, fonoaudióloga com mestrado e doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (SP). “Por volta dos 2 meses, o bebê é capaz de ter um olhar recíproco com os pais e sorrir. Aos 3, 4 meses, começam as vocalizações por meio de balbucio de sons que vêm da garganta e as vogais prolongadas, como anguuu, aaaa… A partir dos 6 meses, é esperado que o balbucio das vogais seja acompanhado de consoantes, como mama, papa…”. Esse processo de desenvolvimento, com alguma variação de tempo, continua até os 12 meses, quando ela já deve ser capaz de pronunciar palavras e, aos 18 meses, juntá-las formando frases. “Se os pais não notarem um progresso até os 18 meses, é bom procurar um especialista”, diz.

Falar errado ou trocar letras é sinal de que preciso procurar ajuda?

“Trocar a letra não necessariamente indica que a criança precisa de ajuda profissional”, diz a fonoaudióloga Regiane Kobal, que trabalha com dificuldade de aprendizagem, de Araraquara (SP). “Cada fonema tem sua idade média para ser instalado. Se antes de conseguir produzir o ‘R’ a criança troca por ‘L’, falando ‘balata’, não há problema, desde que, chegando próximo aos 4 anos, ela comece a substituir o ‘La’ por ‘Ra’ ”, explica. Um ponto citado pelos especialistas é que os pais podem ajudar — nesse e em todo o processo de desenvolvimento da fala — repetindo de forma natural a palavra que a criança falou errado da maneira correta. “Mas é importante não fazer isso de forma rude ou brava, porque a criança nota e pode parar de falar com medo de errar e levar bronca”, explica Denise Lopes Madureira, chefe do departamento de fonoaudiologia do Sabará Hospital Infantil (SP).

Como, então, diferenciar o que é sinal de problema de um processo normal?

É difícil determinar com exatidão se a criança que não produz determinado som ou não fala até certa idade precisa mesmo de ajuda de um especialista, porque há um ritmo de aprendizado, próprio de cada uma. “Mas o que precisamos entender é se essa criança está sendo entendida pelos outros ou se ela precisa de um tradutor”, pondera a fonoaudióloga Regiane. Ela acrescenta: “A criança de 1 ano que nunca produziu um som que faça sentido deveria ser levada para uma avaliação. O pequeno de 1 ano e 6 meses já deve saber expressar minimamente seus desejos, chamar a mãe com ‘mama’, comer com ‘papa’, produzir palavras fáceis e com repetições de sílabas. Outro marco do desenvolvimento é que a criança, aos 2 anos, saiba se comunicar com duas palavras: ‘vem mama’, ‘dá papa’, mesmo que com erros. Se não faz isso, deve, sim, buscar acompanhamento.”

O que pode prejudicar o desenvolvimento da fala?

Um dos primeiros pontos a serem observados quando não há um progresso esperado é checar a audição.“É fundamental a triagem de audição feita na maternidade, assim que a criança nasce”, diz Lauro Alcântara, chefe do departamento de otorrinolaringologia do Hospital Infantil Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). “Uma criança que não ouve, não fala. E uma criança que não ouve direito, não fala direito”, completa. O especialista diz que não é raro, entre 1,5 e 3 anos, a criança ter um quadro de otite secretora, que é o acúmulo de catarro no ouvido. Isso acaba atrapalhando e dificultando a audição, fazendo com que ela comece a falar errado, já que não está ouvindo bem. Ele alerta que a otite secretora não apresenta sintomas: “Se o pequeno começa a falar muito ‘hã?’ e pede para repetir tudo o que falam para ele, é sinal de que não está ouvindo. É bom procurar um especialista.” Além dos problemas auditivos, questões neurológicas (como síndrome de Down ou autismo) e respiratórias também podem influenciar no desenvolvimento da fala. Não havendo nenhuma dessas alterações, vale observar o seu comportamento perante o seu filho.  “Quando pais e mães falam muito pela criança ou não esperam que ela se comunique, adiantando o desejo dela, estão prestando um desserviço, pois não permitem que ela pratique a fala”, explica a fonoaudióloga Regiane Kobal. “Também é importante deixar que a criança fale do jeito dela, sem corrigir o tempo todo. É claro que os pais devem falar corretamente para a criança descobrir a pronúncia certa das palavras, mas a correção constante e austera inibe o desenvolvimento”, completa Denise Lopes.

A dificuldade de fala pode impactar na aprendizagem?

As questões mais comuns, segundo os especialistas,  são os problemas de escrita. “Se a criança fala errado, vai escrever errado também. Se troca o B e o P quando fala, vai fazer isso também na escrita”, diz Lilian Kuhn. A fonoaudióloga Regiane levanta outro alerta: a criança que não é compreendida pelos amigos por ter problemas com a fala pode apresentar baixa autoestima, gerando dificuldade escolar. “Um transtorno de aprendizagem vem acompanhado, necessariamente, de uma alteração de linguagem, seja na leitura, escrita ou fala”, explica. Os especialistas são unânimes em dizer que, caso haja alguma alteração no processo de desenvolvimento da fala, o ideal é que os pais procurem ajuda antes da alfabetização. “Não espere chegar aos 6 anos para iniciar o tratamento, quando a criança já aprendeu a escrever errado porque fala errado. Quanto antes iniciamos o tratamento, menos questões teremos de trabalhar, menos a criança sofre e menos os pais ficam ansiosos, o que pode prejudicar ainda mais a evolução do paciente”, afirma Regiane.

Chupeta e mamadeira interferem no progresso da fala?

Sim. Chupeta, mamadeira e chupar o dedo influem no crescimento e no desenvolvimento craniofacial. “Esses hábitos empurram a língua para trás, mexem com os dentes, mudam o tônus da face e dos lábios… e todas essas estruturas são usadas na fala”, explica Lilian. E mais: “A boca fica ocupada o tempo todo, então a criança fala menos, e o ponto articulatório, quando fala com a chupeta ou o dedo na boca, vai estar em lugar errado”, diz Regiane Kobal.

Criança que gagueja precisa de fono?

Não necessariamente. É preciso observar se essa gagueira não é passageira. “Até os 2 anos e meio, mais ou menos, costumamos dizer que se trata de uma gagueira fisiológica. Ou seja, a criança sabe o que quer dizer, mas a fala é mais lenta do que o cérebro. Costuma passar em algumas semanas”, explica a fonoaudióloga Denise Lopes Madureira. Caso o quadro seja persistente e fora dessa idade, aí, sim,  é preciso buscar ajuda.

Como funciona o tratamento?

Ele é bem personalizado, dependendo do problema, da cada criança e do profissional. Normalmente, as sessões costumam incluir uma porção de brincadeiras, pois é a melhor forma de envolver e entreter os pequenos nos exercícios. Além disso, muitas vezes o tratamento pode ser apenas uma orientação para os pais, para que haja um estímulo adequado – feito em casa, mesmo.

PODE ATRAPALHAR

Duas situações que estão cada vez mais comuns:

Como a falta de comunicação entre filhos e pais interfere no desenvolvimento da fala?

Os profissionais têm percebido um uso precoce e excessivo de equipamentos eletrônicos por crianças muito pequenas. “Isso vem provocando um enclausuramento delas, que se tornam cada vez mais fechadas, com dificuldade para se expressar. Elas estão chegando ao consultório com sintomas de autismo mas, ao iniciar o tratamento, percebemos que, na verdade, trata-se de uma falta de contato, de troca, de relação com pessoas”, explica Denise Lopes, do Sabará Hospital Infantil (SP). A profissional diz que a comunicação entre filhos e pais é fundamental no processo de aprendizado e no desenvolvimento da fala.

Viver em uma casa onde se convive com dois idiomas é prejudicial?

Ainda é uma questão de debate entre profissionais. Apesar de a primeira infância ser um ótimo período para as crianças adquirirem conhecimento, sobretudo mais de um idioma, viver em um ambiente onde não há uma língua-mãe preponderante pode afetar o desenvolvimento da fala. “Minha visão particular é que, como o processamento auditivo da criança não está finalizado até os 7 anos, esse fato pode acarretar certa alteração na linguagem”, diz a fonoaudióloga Regiane Kobal. “Como a criança passa a ter dois estímulos diferentes o tempo todo, pode ser que demore um pouco mais para falar com desenvoltura”, completa Denise.

Fonte: Crescer
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