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19/04/2022 16h30 Atualizada há 3 anos
Por: Bruna Dias

Conheça a lenda da Moça do Táxi, que faria 107 anos nesta terça

Josephina Conte nasceu em 19 de abril de 1915, mas ainda hoje faz parte do imaginário popular da capital paraense, sob a alcunha de “Moça do Táxi”. E apesar de receber visitas em seu túmulo desde a década de 1940, sua história só ganhou registro em 1972, no livro “Visagens e Assombrações de Belém”, de Walcyr Monteiro, que escutou diversas versões da lenda (incluindo algumas mudanças de trajeto) que, em resumo, quase todo belenense conhece: uma moça que pega um táxi e depois pede que o motorista cobre a corrida do pai dela. Ao chegar lá, ele descobre que a moça já morreu.

E o dia de hoje é especial, pois segundo os relatos, é na data do seu aniversário que a jovem pede ao taxista que faça um “tour” pela cidade. “Se ela sai todo ano, ela deve sair [hoje], né? Então, eu espero que ela não pegue o meu táxi (risos)”, brinca Marcos Nazareno Monteiro, 59 anos. Ele conta que a lenda já não costuma circular tanto entre os taxistas, mas permanece.

 Imagem da fotonovela
Imagem da fotonovela

“As pessoas comentavam, principalmente, quando eu comecei a rodar, 28 anos atrás. Eu sempre achei que era uma lenda mesmo, feita para dar um gostinho a mais na história do taxista (risos)”.

De acordo com o livro de Walcyr Monteiro, a lenda teve início quando um taxista bateu à porta da família de Josephina para cobrar uma corrida. Ele explicou que no dia anterior havia apanhado uma moça em frente ao cemitério e a levou até a Basílica. Ela rezou, pediu para deixá-la novamente no cemitério e cobrar a corrida na casa da família, que chegou a pensar que uma das irmãs dela havia feito o trajeto. Olhando para dentro da casa, o motorista reconheceu o retrato de Josephina e só então soube que ela havia morrido de tuberculose, cerca de cinco anos antes, em 1931, aos 16 anos.

“Eu penso que os mortos não fazem mal para ninguém, os vivos é que dão medo. Nos meus 28 anos de praça, o que ouço é história de quem pegou passageiro esperto, que coloca sacola na mala, diz que vai pegar dinheiro e não volta. Quando a gente olha na sacola, é só papel”, diz Marcos. Lembrando a ele que a Moça do Táxi também não paga a corrida e manda cobrar depois, o taxista diz que para Josephina vale a mesma regra que para os vivos: “A gente vai cobrar lá na casa dela! (risos)”.

SEM APP

Quando a história de Josephina surgiu, não existia táxi, palavra que só passou a ser usada depois da década de 1960. Os carros disponíveis para aluguel de uma corrida eram chamados “carros de praça” e o motorista era chofer. Logo Josephina teve sua alcunha atualizada para Moça do Táxi e muito já se brincou sobre um possível interesse dela em optar agora pela facilidade dos motoristas de aplicativo, quem sabe tornando-se a “Moça do Uber”? Mas parece que a dificuldade de acesso a um celular ou mesmo a nostalgia de uma jovem da década de 1920 tem mantido sua rotina dos acenos na rua e não nos cliques de celular.

“Ainda tem muito motorista que vem atrás [do túmulo] dela. Não tem Uber não, ela ainda é fiel aos taxistas (risos). Dizem que ela pegava o táxi aqui atrás do cemitério; e a família dela até se mudou”, conta o zelador Lucivaldo Martins, que trabalha no Cemitério Santa Isabel desde os 13 anos de idade e hoje, aos 44, tem admiração por Josephina. Ele acrescenta que muitas pessoas procuram pelo túmulo para fazer pedidos e agradecer graças alcançadas, já que ela se tornou uma santa popular. “Não faz muito tempo, uma senhora ganhou uma causa na Justiça que ela tentava há muitos anos e veio acender duas caixas de velas para ela. É uma pessoa que faz muito milagre”, conta.

História enigmática de um retrato 

Quem visita o túmulo, ainda se depara com o que seria a prova de outro fato intrigante sobre Josephina. O pai da moça enviou uma foto para a Itália, para ser incrustada no mármore de sua lápide. Quando o mármore chegou ao Brasil, havia na blusa dela um broche de um carro, que na foto original não existia. A fotógrafa paraense Walda Marques conta que foi inspirada nessa parte da história que criou a fotonovela “Josefina, a moça do táxi”, em 2016, obra feita por encomenda para o Clube de Colecionadores do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), tendo a atriz Paola Pinheiro como intérprete de Josephina nas fotos.

“Desse enfeite na foto nasce a lenda; e quando o taxista vai na casa da família cobrar a corrida, ele olha um retrato dela e a reconhece. Então, a lenda toda da Moça do Táxi é contada através da fotografia, e essa foi a minha base [para criar a fotonovela]”, explica Walda.

No romance em fotos, que depois serviu de inspiração para o curta-metragem “Josephina”, da cineasta paraense Ziene Castro, a personagem ganha uma história de amor de janela por um jovem taxista, que precisa partir e só retorna anos depois, passando a perambular na madrugada pelas ruas de Belém, à procura do grande amor da sua vida.

“Como meu pai foi motorista de táxi, eu tenho um apreço pela história. O ator que faz o par romântico dela [na fotonovela], já mais velho, na década de 1960, é o meu tio, Orlando Marques, que também foi motorista de táxi. É uma história minha que criei para a Josephina. Fiz esse trabalho com um grande respeito à memória dela, fazendo com que ficasse bem legal para a gente se apaixonar também. É uma questão de memória, de infância [no caso de Walda], afinal, quem não ouviu falar da Josephina, a Moça do Táxi?”, diz a fotógrafa.

Zienhe Castro diz que foi exatamente esse viés romântico que a atraiu para recontar a história a partir da fotonovela de Walda. “Eu amo esse trabalho. Sou muito fã da história da Josephina e também do trabalho da Walda Marques. Muitos outros artistas trabalham a história com a abordagem do fantasmagórico. Eu me encantei com a fotonovela para fazer a adaptação para o curta porque trazia para a narrativa a Josephina como protagonista da história de seu primeiro e único amor”.

Orlando Borges, 58, que está na praça há seis anos, garante que a história segue viva entre os colegas. “Pessoas que sabem que somos taxistas tiram até brincadeira. Até quem é jovem, quem é mais recente na profissão, porque vai passando de geração para geração. Esse mundo é cheio de mistério, ninguém sabe dizer a verdade. Antigamente, a cidade era meio escura, cheia de contos, e vai passando. Se realmente acontece, [hoje] com certeza ela sai. Mas ela não vai avisar que é a Moça do Táxi, né? (risos). Pela lenda, ela não faz mal a ninguém, então a gente leva. E não é só ela que não paga a corrida não, é muita gente! (risos)”, brinca o taxista.

 
Fonte: https://dol.com.br/
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